PARASITOSES INTESTINAIS:

>> sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

ANCILOSTOMOSE OU OPILAÇÃO
Com os nomes acima, são conhecidas doenças causadas por vermes pertencentes ao gênero Ancylostoma e Necator, do filum Nematelminthes, onde estão agrupados os vermes que tem o corpo cilíndrico; Nesses gêneros, estão reunidas várias espécies parasitas tanto do homem quanto de animais, conforme detalhado abaixo:
Ancylostoma duodenale - Quase que exclusivamente parasita humano;
Ancylostoma braziliense - Primariamente parasita de cães e gatos, porém encontrado ocasionalmente também nos intestinos humanos
Necator americanus - Espécie que mais particularmente nos interessa, por ser a mais freqüentemente encontrada parasitando os intestinos do homem no Brasil e também dos animais herbívoros.
A doença é conhecida desde tempos imemoriais e caracteriza-se no homem quando o parasitismo é intenso, por também intensa anemia; Papiros egípcios de 1.600 A.C., já assinalavam a ocorrência da doença; Avicena, médico persa que viveu no século X da nossa era, foi o primeiro a encontrar os vermes nos intestinos de doentes e responsabilizá-los pela anemia decorrente, por serem os mesmos sugadores de sangue (hematófagos); Na Europa era a doença conhecida por Anemia dos Mineiros, tomando nomes diversos conforme o país em que era constatada. No Brasil era antigamente nomeada por Opilação, Amarelão ou Anemia Tropical. Nosso escritor Monteiro Lobato, em um de seus livros, retrata o personagem Jeca Tatu, que nada mais era que um indivíduo parasitado pelo verme, o que serviu pelo Laboratório Fontoura para a propaganda de medicamentos de sua fabricação indicados para o tratamento da doença.
Em 1838 Dubini, médico Italiano, autopsiando uma mulher milanesa, encontrou em seus intestinos o verme, descrevendo-o com detalhes e nomeou-o Ancylostoma duodenale, sem contudo suspeitar do seu papel patológico. Somente Griesinger, em 1851, demonstrou ser o parasita intestinal o causador da chamada Clorose do Egito, encontrando o verme nos intestinos de numerosos cadáveres que necropsiou e assinalando a presença de pequeninos pontos hemorrágicos na mucosa intestinal, produzidos pelo verme para o ato de sugar sangue de suas vítimas. J. Rodrigues de Moura, notável médico brasileiro, ainda quando estudante de medicina, em 1875, não só defendeu as idéias de Griesinger, como ainda emitiu a hipótese, mais tarde plenamente confirmada pelos trabalhos de Looss, da penetração das larvas do parasita, pela pele íntegra das pessoas, as quais mais tarde de tornam parasitadas pelos vermes, albergando-os em seus intestinos.
Trabalhos estatísticos efetuados no Brasil, comprovam que quase 100% da população rural, trabalhando na terra, muitas vezes descalça, está parasitada pelo verme.
A doença caracteriza-se pela presença do helminto nos intestinos de suas vítimas, os quais por serem sugadores de sangue, virão causar anemia do tipo espoliativa, de evolução lenta porém progressiva, acompanhada de perturbações gastrointestinais, depressão física e mental, podendo estas últimas serem muito acentuadas, obviamente, quando se tratar de pessoas e não animais.
Com relação às perturbações determinadas pelos vermes, devemos considerar àquelas cutâneas, no ponto de penetração das larvas dos vermes; as pulmonares, no trânsito da larva por esse órgão; e as intestinais, estas últimas pela localização do verme já na sua fase adulta, culminando pelas alterações da saúde, decorrentes do parasitismo, como a anemia que se estabelece e perturbações de natureza psíquica, hoje interpretadas como decorrentes de toxinas não só assimiladas juntamente com a saliva que o parasita deposita no ponto em que se instala nos intestinos para sugar sangue, como também contidas no próprio tubo digestivo onde o mesmo vive quando verme adulto parasita.
Pelo quadro mórbido retratado antes, torna-se fácil a explicação do ciclo evolutivo do parasita até chegar e se estabelecer nos intestinos de suas vítimas. Ovos embrionados eliminados juntamente às fezes de vítimas parasitadas, na terra, em condições favoráveis de umidade e calor, dão nascimento às larvas do verme, as quais nessa fase, medem em torno de 0,25 mm de comprimento, com diâmetro em torno de 0,017 mm, com variações de acordo com a espécie considerada do parasita. Continuando favoráveis as condições ambientes, processa-se seu desenvolvimento, sofrendo em torno de três mudas de pele, que é a forma que os vermes têm para crescer, recebendo nessas épocas, os nomes de larvas rabditoides de primeiro, segundo e terceiro estágios; É então, a larva, denominada infestante, por ter então capacidade de penetrar através da pele íntegra de pessoas e animais, quando então provoca severa irritação local, que se traduz por coceira intensa.
O pesquisador Looss, em repetidas experiências, não só provou a penetração da larva através da pele, como ainda descreveu o seu caminho até chegar aos intestinos de suas vítimas. As larvas estimuladas pelo calor da pele de seus futuros hospedeiros, atravessam a superfície da mesma, por entre as fissuras ou poros, valendo-se das bordas desses poros como suporte auxiliar de seu caminho posterior e penetram através das fissuras horizontais, folículos ou aberturas das glândulas sudoríparas, conforme a natureza da pele exposta.
No caminho de sua penetração na epiderme, a cápsula, ou segunda muda larvária, se ainda não inteiramente expulsa, é deixada. O maior número delas é encontrado nos capilares linfáticos do derma, e pequeno número penetram diretamente nos capilares sangüíneos; Algumas ficam vagando, muitas vezes, nas camadas superficiais da pele, penetrando no tecido gorduroso e não raro no muscular. As larvas que caem nos linfáticos, segundo Looss, são levadas primeiro aos gânglios linfáticos, onde muitas vezes são destruídas, atacadas pelas próprias células linfáticas de defesa, que se fixam firmemente à cutícula das larvas e as matam; Muitas delas, não sendo vítimas dessas células da defesa natural do organismo parasitado, atravessam os gânglios e caindo no ducto torácico e na corrente circulatória, sendo conduzidas pelos vasos sangüíneos, vão ter ao coração direito, de onde, são levadas pela artéria pulmonar até o próprio pulmão; Neste órgão, caem nos alvéolos pulmonares, possivelmente atraídas pela presença do oxigênio; Uma vez nos alvéolos, tendo caminhado a curta distância até os bronquíolos, o epitélio ciliado empurra as larvas pelo caminho restante até a boca. Este último caminho é apenas mecânico, estimulando a secreção de muco que embebe as larvas, provocando tosse; Tal tosse, chamada tosse chistosa, característica do parasitismo por vermes que efetuam o chamado Ciclo de Looss, acabado de ser descrito, é sintoma que serve para caracterização clínica do parasitismo.
A tosse que ocorre por irritação da mucosa, provocada pela própria larva embebida em muco, serve como meio de ser a mesma deglutida, caindo então no estômago e daí, para os intestinos, para completarem assim todo o caminho para se estabelecerem definitivamente neste último órgão, agora então como parasitas plenamente desenvolvidos, aptos a sugarem sangue de suas vítimas e causando todos os malefícios decorrentes.
Yokogawa, em 1926, fazendo experiências com o A. caninum, que é parasita habitual do cão, onde desenvolve, como no homem o seu irmão egênero A. duodenale, quadro patológico similar , constatou o referido pesquisador, que a maioria das larvas se desenvolve diretamente, sem migrações através da pele e poucas penetram nas paredes do canal alimentar. Como já referido anteriormente, a penetração da larva dos ancylostomideos através da pele, produz irritação e coceira, já comprovado por Looss em seus trabalhos.
No entanto, quando ocorre a penetração acidental de larva pertencente a determinada espécie, para a qual não é o hospedeiro sua habitual vítima, ocorre o fenômeno que se traduz pelo que é chamado em parapsicologia, de Localização Errática do verme, este não conseguindo dar continuidade ao seu caminho, caminhando sem rumo certo, nas camadas superficiais da epiderme.
DERMATOSE SERPIGINOSA Também chamada de Larva Migrans, nada mais é que a larva do Ancylostoma braziliense , que como referido anteriormente, é parasita habitual de cães e gatos, havendo penetrado acidentalmente na pele de uma pessoa, passa a vagar sem rumo sob a epiderme, provocando com essa irritação mecânica, forte coceira, o que lhe valeu o cognome no Rio de Janeiro, de "já começa", ou Coceira das Praias, por ser comum nas praias onde cães parasitados tenham acesso.
No Sul do Estados Unidos, tal dermatose é conhecida pelo nome de "ground itch", isto é, coceira da terra e em Porto Rico por "mazamorra". Os povos de língua inglesa, denominam-na de "creeping eruption", sendo na verdade uma síndrome, que se manifesta pela migração dentro da epiderme de vários agentes, dos quais os principais são:
Larvas de moscas: Moscas do gênero Gastrophilus e Hipoderma.
Formigas: Solonopsis geminata.
Larvas de nematóides: Espécies do Gênero Gnathostoma, Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliense.
Para o tratamento dessa dermatose, o tratamento local com medicamentos de ação anti-helmíntica, como o thiabendazol, tem-se revelado superior aquele antigamente utilizado, quando era utilizada aplicação de neve carbônica ou cloreto de etila e mesmo aplicação do Raio X.
Sendo os animais, principalmente cães quando parasitados, os responsáveis pela dermatose no homem, é essa uma das razões da proibição da presença de cães em praias.
Quanto ao tratamento para a Ancilostomíase, a atenção deve ser dirigida não apenas para expulsão dos parasitas adultos do aparelho digestivo dos indivíduos parasitados, mas também na administração de edicação que reponha o íon ferro e este na forma bivalente (ferroso), para que o próprio organismo refaça o pigmento vermelho do sangue (hemoglobina), retirado pelo verme através do ato de sugar sangue, quando albergado nos intestinos de seus hospedeiros. Assim, administração de anti-helmínticos de acordo com as características próprias da espécie a ser tratada, além de compostos ferrosos que sejam assimiláveis pelo organismo, como relatado anteriormente.
Para a profilaxia do mal, a infra-estrutura sanitária, responsável pelo tratamento tanto da água a ser bebida, quanto dos dejetos humanos, é de suma importância, sem a qual, torna-se impossível impedir que os ovos contidos nas fezes de pessoas e animais parasitados continuem seu ciclo, infestando novos hospedeiros.
Além das indicações acima, para a profilaxia não apenas dessa doença quanto das demais, tanto parasitárias quanto infecciosas, só a educação do homem e sua instrução, para corrigir erros oriundos de maus hábitos, decorrentes da ignorância.
GIARDÍASE OU GIARDIOSEO
primeiro cientista a ver o protozoário causador dessa parasitose, ao microscópio ótico que ele mesmo havia inventado, foi Leeuwenhoek, que verificou também estar ele próprio infestado. Porém, quem primeiro descreveu esse parasita foi Lambl, no ano de 1859 que na ocasião denominou-o de Cercomonas intestinalis. Mais tarde, Stiles colocou-o no gênero Giárdia e de acordo com as regras internacionais de nomenclatura, o nome correto para o agente causal dessa doença é: Giardia lambria.
Tem esse protozoário flagelado, o corpo em forma de uma pêra; arredondado anteriormente, delgado posteriormente, medindo 10 a 30 micra de comprimento por 5 a 15 de largura. Na face ventral encontra-se, de cada lado, um disco em forma de ventosa, quase circular, por meio dos quais o parasita se fixa à superfície das células epiteliais dos intestinos de seus hospedeiros parasitados. Tem ainda esse protozoário, quatro pares de flagelos(caudas), que se acham dispostos simetricamente com origens em blefaroplastos de disposições descritas de maneiras diversas por vários observadores. Tem também dois núcleos esse protozoário e não possui citóstoma. Tais protozoários flagelados multiplicam-se por um processo complicado de divisão longitudinal. A Giárdia se encista e seus cistos tem a forma ovóide e em indivíduos encistados, podem-se ver os flagelos movendo-se dentro dos cistos. Tais formas encistadas são muito comumentemente encontradas nas fezes de indivíduos parasitados. Só quando as fezes se apresentam diarréicas é que esse parasita se apresenta na forma chamada livre(vegetativa). Vistos a fresco(em exame direto ao microscópio ótico) são muito transparentes, necessitando corantes especiais para sua visualização, ou então exame em Campo Escuro(Cardióide) para sua perfeita visualização.
Dá-se por intermédio de alimentos ou bebidas contaminadas com fezes contendo cistos do flagelado. Tais cistos são muito resistentes ao meio externo. Vários autores, entre eles Roubard e Root (1921), verificaram a permanência de cistos vivos durante 24 horas no intestino da mosca, capaz, por meio de dejeções, de disseminar o parasita. Tejera em 1925 demonstrou a possibilidade desse parasita ser disseminado pelas fezes de baratas. Samuel B. Pessoa(Brasil), demonstrou que as baratas domésticas, coprófagas, podem se alimentar de fezes humanas e expelir, em suas dejeções cistos viáveis de Giárdia até 7 dias após a alimentação, bem como disseminar cistos por regurgitamento do material ingerido.
Epidemiologia: A Giárdia é um parasita cosmopolita e o mais freqüente dos flagelados parasitas do intestino do homem, de também de algumas espécies animais como cães, cavalos, cabras, coelhos, cobaias e algumas aves.
Patogenia e sintomatologiaVários patologistas e parasitologistas de renome, como Graig, não admitem o papel patogênico da Giárdia. Culbertson (1942) fala da ocorrência de Giárdias nas fezes de pessoas apresentando dores abdominais bem como da inflamação da vesícula, freqüentemente observada; porém, geralmente, a Giárdia desenvolve-se no intestino em associação com outros agentes patogênicos, tais como Entamoeba histolytica, provavelmente a responsável pela sintomatologia, apresentada nesses casos. Assim, segundo tal autor, a Giárdia não pode ser responsabilizada pela doença. Entretanto, tomando-se por base observações muito cuidadosas, em que foi eliminada a possibilidade de outras espécies patogênicas, sem dúvida alguma a Giardia lambria, em determinados casos, é agente causal de perturbações para o lado do aparelho digestivo. O próprio Craig descreveu milhares de trofozoítas de Giárdias nas criptas duodenais, inseridas as células por meio de seus discos sugadores, produzindo irritações superficiais ou agravando uma condição inflamatória existente, ocasionando assim, diarréia crônica. Clinicamente a doença apresenta em primeiro lugar, perturbações dolorosas não apenas para o lado intestinal quanto também para o lado do fígado, semelhantes aos de litíase vesicular. Quando de localização duodenal determinam duodenite, com dores na região epigástrica e simultânea perturbação do tipo dispéptico(vômitos). O homem parasitado, queixa-se de azias, náuseas, digestão difícil. As fezes diarreicas, apresentam-se líquidas, ou então moles com a consistência de mingau, muito fétidas, as vezes de coloração esverdeada. É também muito discutida a questão da Giardiose vesicular. Pietro Allodi, relata casos de colescistites por Giárdia, com sintomatologia simuladora de colelitíase, mas com o diagnóstico baseado na presença de Giárdias na bile.
Terapêutica: Vários produtos tem indicação no tratamento dessa parasitose, sendo os mais eficientes aqueles a base de atebrina, um derivado da acridina, ministrado na forma de comprimidos por cinco dias seguidos. Existem também novos quimioterápicos, igualmente eficientes contra o parasita.
Observações finais: É importante que o criador ou mero afeiçoado de cães não se preocupe em demasia com esse tema, quanto outros similares, sob pena de tornar-se doente imaginário, começando por enxergar doenças até em sua própria sombra, o que então será motivo de preocupação, agora não apenas sob o ponto de vista somático como também psicológico. Moderação necessária e bom senso são indispensáveis portanto. No mundo estamos cercados por outros seres, que como nós também necessitam e lutam para viver. Nossa vida deve ser compartilhada com todos, somente não devemos impassivelmente permitir, que outros seres vivos, alguns deles nocivos, ultrapassem os limites dessa co-participação universal.
DIPYLIDIUM CANINUM
São encontrados parasitando cães e gatos, o verme denominado cientificamente por Dipylidium caninum, Linné 1758. Referido parasita intestinal, é classificado em Parasitologia no filum dos PLATELMINTOS, pelo fato de ter seu corpo achatado no sentido dorso ventral, e chamados vulgarmente por Tênias. Mede quando adulto em torno de 15-20cm de comprimento por 2-4mm de largura. Seu chamado Escolex, ou seja, sua cabeça mede em torno de 250-500 micra de largura e também como o corpo, achatado dorso-ventral, apresentando quatro ventosas ovais sem ganchos (inermes). Seus proglotes maduros, ou seja, seus anéis, medem 7-12x 1,5-3 mm, e de coloração rosada, e forma elipsóide. Seus poros genitais estão localizados bi-lateralmente em sua zona média da margem do proglote. Para quem não tem noção de zoologia, esclareço que o verme classificado nesse grupo (Platelmintos), tem o corpo constituído de anéis, que são chamados proglotes, sendo cada anel na realidade um organismo completo, possuindo todos os órgãos vitais, e vão progressivamente se desprendendo do corpo do verme, a medida que alcançam a porção terminal, devido atingirem seu amadurecimento completo. Quando maduros, contêm em seu interior, os ovos do parasita, quase sempre aglomerados formando o que se chama em citologia de um sincício. Agora a informação que mais de perto interessa a todos os criadores de cães e gatos: Referido parasita determina cólicas nos animais parasitados, além das suas fezes apresentarem quase sempre presença de muito muco e algumas vezes até sangue, este conseqüência de hemorragias provocadas no ponto de fixação do parasita nos intestinos. Quando albergados em grande número num único animal determinam agitação do mesmo, devido às cólicas intestinais que provocam, alem de interferirem na digestão e mesmo no aproveitamento dos alimentos ingeridos pelo animal. Podem algumas vezes ser vistos nas fezes dos animais, quando recém eliminadas e mesmo com a vista desarmada, quando então apresentam muita movimentação, que cessa progressivamente com a perda de calor pelos dejetos eliminados. Para seu tratamento, requerem administração de vermífugos especiais, específicos para o mesmo, motivo pelo qual recomenda-se sempre, prévio exame de fezes do animal, e não simplesmente administração indiscriminada de vermífugos.
Carmello Liberato Thadei - Médico Veterinário - CRMV-SP-0442

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