TRAGÉDIA DE CHERNOBYL COMPLETA HOJE 23 ANOS

>> domingo, 26 de abril de 2009










CHERNOBYL: UCRANIANA FAZ RELATO DAS "CIDADES MORTAS"PELO ACIDENTE NUCLEAR



RIO - Elena Filatova, ou "KidOfSpeed", é uma das pessoas que mais escreveram sobre a "Zona Morta" - área de aproximadamente 30 km2 criada após o acidente de Chernobyl - na Ucrânia e na Bielorrússia. Alguns anos atrás, seu site virou sensação no mundo por mostrar um passeio pela região em uma moto, lembrando o que, para muitos, estava enterrado sob o sarcófago. A ucraniana de 35 anos trouxe novamente à tona a mórbida paisagem que ainda sofre os efeitos da radiação. A explosão, 100 vezes mais radioativa que as bombas de Hiroshima e Nagasaki juntas, deixou, além de um legado de mortes, um perigo invisível, silencioso e cruel: os raios gama, a pior e mais letal forma de ionização. Hoje o acidente completa 23 anos.





- A radiação gama é cumulativa, vai se somando com o tempo. Humanos podem se expor a uma certa quantidade de raios gama durante sua existência. É como se você recebesse dinheiro suficiente para gastar durante toda a sua vida - explica Filatova. - Você deveria gastá-lo de forma sábia. Os cientistas que trabalham no sarcófago de Chernobyl podem desperdiçar seu 'capital' em algumas horas. Em Chernobyl, como na vida, alguns gastam em um lugar o que outros fazem durar por anos. E sintomas como vômitos e náusea significam que a falência está muito próxima.





Os primeiros bombeiros que chegaram para apagar o incêndio na usina simplesmente se desintegraram depois de algum tempo. E ainda hoje há bolsões de radioatividade altíssimos na cidade de Pripyat, que abrigava trabalhadores da usina e seus parentes. Os maiores deles estão dentro dos prédios, na floresta chamada "Madeira Vermelha" (que teria o nome por ter brilhado no escuro após a explosão) e nos cemitérios da "Cidade Fantasma", como é conhecida Pripyat. O grafite usado para extinguir o fogo no reator foi enterrado neste local, considerado um dos mais tóxicos do planeta. Hoje, a "Zona Morta" volta à vida, mas de uma forma estranha. Por ano, centenas de turistas pagam cerca de US$ 400 por um dia de passeio pela sinistra região. E muitos dos guias também cobram "extras" pelo serviço.





E o que jaz sob o sarcófago de concreto que cobre o reator 4 da usina de Chernobyl vai permanecer ativo por mais de 100 mil anos.





- As pirâmides do Egito duram 6 mil anos. Chernobyl é nossa contribuição para a História da Humanidade. É uma Pompéia dos tempos modernos - lembra Filatova.



Aliás, a própria ucraniana é acusada de ser um "subproduto da radiação": ela nunca teria ido de moto à região. Uns simplesmente ouvem os guias, que falam o que for preciso para desacreditá-la. Outros, culpam o governo pelo que chamam de "tentativa de silenciar a verdade". Os céticos dizem que seus relatos - e seu passeio de moto - são inverossímeis, enquanto idealistas dizem que o propósito de Filatova é simples: usar a internet para não deixar a tragédia cair no esquecimento, mesmo que o preço seja sua reputação.



- É inútil questionar se algo ou alguém é real ou não. Quem não é real, vai dizer que é. E quem for, vai silenciar. Exatamente como Chernobyl - finaliza a ucraniana.



VEJA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA:



Você contou em quantas cidades mortas já esteve?





Antes que eu perdesse a conta, eram cerca de 180 cidades e vilas mortas, mas isso foi há alguns anos e eu visitei muitos lugares após isso. No total, na Ucrânia, Bielorrússia e Rússia, o acidente de Chernobyl 'matou' cerca de 2 mil cidades e vilas. Um quarto desse total era de grandes cidades e grandes vilas. O resto eram fazendas, vilarejos ou povoados muito pequenos, que nós chamamos de 'hutors'.





O que ucranianos e bielorrussos dizem ou leem sobre a tragédia hoje em dia?







" A pior coisa de Chernobyl é que ela não deixa esperança "









Bielorrussos não podem falar muito, não têm liberdade de expressão e falar a verdade pode ser perigoso. Na Bielorrússia, alguém que publique uma pesquisa verdadeira sobre Chernobyl será preso ou simplesmente irá sumir. Assim, não há quem fale a verdade. Na Ucrânia, após a Revolução Laranja, falar a verdade não é proibido, muito embora ucranianos falem pouco dessas coisas. O que parece um paradoxo, mas não é. Nietzsche disse uma vez que a verdade encontra mais defensores onde falar a verdade é perigoso e encontra menos defensores onde falar a verdade é tedioso.





Você viu muito da maior tragédia da Humanidade. O que é, na sua opinião, a pior mensagem do acidente?





A pior coisa de Chernobyl é que ela não deixa esperança. Eu disse uma vez que em um dos portões de Chernobyl escreveria o que Dante escreveu na entrada de seu Inferno: 'Todas as esperanças abandonam aqueles que entram aqui'. Em todas as línguas, temos ditados como 'a esperança é a última que morre' ou 'onde há vida, há esperança'. A desesperança rouba nossas forças enquanto caimos em torpor. Nenhum homem pode se mover sob desesperança. As pessoas apenas dão as costas ao problema, sem esperança, já que estão apenas tentando esquecer.



Você sempre comenta a tragédia com citações filosóficas ou religiosas. Em lugares como Pripyat, Chernobyl ou qualquer outra zona morta há espaço para religião?



É, definitivamente, religião. Eu sempre soube que Chernobyl havia sido prevista na Bíblia, mas nunca liguei. Até o dia que tive um momento de grande compreensão sobre essas profecias. Isso aconteceu perto de uma fazenda, na zona morta, bem perto da usina. De repente, eu percebi que a profecia da minhoca e a verdade sobre as seguintes passagens se tornaram claras para mim:



Isaías 13:21,22 - Mas as feras do deserto repousarão ali, e as suas casas se encherão de horríveis animais; e ali habitarão as avestruzes, e os sátiros pularão ali. As hienas uivarão nos seus castelos, e os chacais nos seus palácios de prazer; bem perto está o seu tempo, e os seus dias não se prolongarão.



Isaías 34: 10 - Nem de noite nem de dia se apagará; para sempre a sua fumaça subirá; de geraçäo em geraçäo será assolada; pelos séculos dos séculos ninguém passará por ela.

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