COMER OU NÃO COMER CARNE

>> terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Uma Abordagem Ética e Doutrinária
- Nossa alimentação exige o sacrifício dos animais?
Em Missionários da Luz, Cap. 4, "Vampirismo", André Luiz oferece-nos maravilhosa lição, abrindo o nosso entendimento a respeito do assunto. É Alexandre, seu instrutor no momento, quem esclarece: ""... a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os suprimentos proteicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte".
Acho essa lição maravilhosa porque ela nos impulsiona, nos motiva a conquistar mais um passo, em nossa caminhada evolutiva. Somos advertidos de que nossa inteligência já tem recursos de buscar o suprimento proteico de que necessitamos, em outras fontes que não mediante o sacrifício da vida dos animais. Não precisamos mais nos acomodar à antiga noção de que a nossa saúde não se manteria sem o consumo de carne. No próprio LE 723 encontramos a questão: ''A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural?" Na resposta, lemos: "Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo a sua organização".
De fato, a alimentação humana não pode prescindir de proteínas, ácidos graxos essenciais (elementos encontrados em óleos e gorduras), açúcares, vitaminas e minerais. Entretanto, temos a errônea noção de que só a carne é rica em proteínas.
Mas elas também podem ser encontradas em outras fontes como ovos e leite, de origem animal, além de uma infinidade de vegetais.
Uma dieta variada em itens vegetais (frutas, verduras, grãos) já atende bastante nossas necessidades. Se somarmos a isso a ingestão de alguns produtos de origem animal (leite, seus derivados e ovos), então as exigências de nosso corpo, em termos de aporte nutricional, estarão completamente satisfeitas.
É o próprio LE 720a, que nos leva nessa direção: "Há privações voluntárias que sejam meritórias?" Resposta: "Sim: a privação dos prazeres inúteis, porque liberta o homem da matéria e eleva sua alma ... "
Então, se podemos conservar as nossas energias e a nossa saúde, privando-nos voluntariamente do consumo de carne, isso não é meritório? Se está ao nosso alcance poupar a vida e o sofrimento de outros seres vivos, por que não fazê-lo?
O pessoal do GRÃO - Grupo de Apoio e Orientação, de Ribeirão Preto - SP, cujo objetivo é a divulgação de mensagens enviadas pelos espíritos, à luz da Doutrina Espírita, referentes ao amor e ao respeito pelos animais, passou-me este interessante texto de Emmanuel, contido em O Consolador:
- Pergunta 129: É um erro alimentar-se o homem com a carne dos irracionais?
Resposta: "A ingestão das viceras dos animais é um erro de enormes conseqüencias, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar, semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos.
Temos de considerar porém a máquina econômica do interesse e harmonia coletiva, da qual tantos operários fabricam o seu pão cotidiano. Suas peças não podem ser destruídas de um dia para o outro, sem perigos graves. Consolemo-nos com a visão do porvir, sendo justo trabalharmos delicadamente pelo advento dos tempos novos em que os homens terrestres poderão dispensar da alimentação os despojos sangrentos de seus irmãos inferiores."
André Luiz, em Missionários da Luz, Cap., "Vampirismo" expõe sua estranheza à infeliz condição de "muita gente na terra que vive à mercê de vampiros invisíveis". Indaga ele, então: "E a proteção das esferas mais altas? E o amparo das entidades angélicas, a amorosa defesa de nossos superiores?"
A resposta de Alexandre, o instrutor, não tarda: "André, meu caro". Em todos os setores da Criação, Deus, nosso Pai, colocou os superiores e os inferiores para o trabalho de evolução, através da colaboração e do amor, da administração e da obediência", no capítulo da indiferença para com a sorte dos animais, da qual participamos no quadro das atividades humanas, nenhum de nós poderia, em sã consciência, atirar a primeira pedra. Os seres inferiores e necessitados do Planeta não nos encaram como superiores generosos e inteligentes, mas como verdugos cruéis ...
Se não protegemos e nem educamos aqueles que o Pai nos confiou, como germes frágeis de racionalidade nos pesados vasos do instinto; se abusamos largamente de sua incapacidade de defesa e conservação, como exigir o amparo de superiores benevolentes e sábios, cujas instruções mais simples são para nós difíceis de suportar, pela nossa lastimável condição de infratores da lei de auxílios mútuos?"
Vale a pena revermos esse trecho em que Alexandre fala a André Luiz: "Por que tamanha estranheza? - perguntou o cuidadoso orientador - e nós outros, quando nas esferas da carne? Nossas mesas não se mantinham à custa das vísceras dos touros e das aves? A pretexto de buscar recursos protéicos, exterminávamos frangos e carneiros, leitões e cabritos incontáveis. Sugávamos os tecidos musculares, roíamos os ossos. Não contentes em matar os pobres seres que nos pediam roteiros de progresso e valores educativos, para melhor atenderem à Obra do Pai, dilatávamos os requintes da exploração milenária e infligíamos a muitos deles determinadas moléstias para que nos servissem ao paladar, com a máxima eficiência. O suíno comum era localizado por nós, em regime de ceva, e o pobre animal, muita vez à custa de resíduos, devia criar para nosso uso certas reservas de gordura, até que se prostrasse, de todo, ao peso de banhas doentias e abundantes. Colocávamos gansos nas engordadeiras para que hipertrofiassem o fígado, de modo a obtermos pastas substanciosas destinadas a quitutes que ficaram famosos, despreocupados das faltas cometidas com a suposta vantagem de enriquecer os valores culinários. Em nada nos doia o quadro comovente das vacas-mães, em direção ao matadouro, para que nossas panelas transpirassem agradavelmente".
Aí fica a sugestão do inspirado mentor Alexandre para que pensemos no assunto: "Abandonando as faixas de nosso primitivismo, devemos acordar a própria consciência para a responsabilidade coletiva. A missão do superior é a de amparar o inferior e educá-lo. E os nossos abusos para com a Natureza estão cristalizados em todos os países, há muitos séculos. Não podemos renovar os sistemas econômicos dos povos, dum momento para outro, nem substituir os hábitos arraigados e viciosos de alimentação imprópria, de maneira repentina. Refletem eles, igualmente, nossos erros multimilenários. Mas, na qualidade de filhos endividados para com Deus e a Natureza, devemos prosseguir no trabalho educativo, acordando os companheiros encarnados, mais experientes e esclarecidos, para a nova era em que os homens cultivarão o solo da Terra por amor e utilizarão dos animais, com espírito de respeito, educação e entendimento ...
Semelhante realização é de importância essencial na vida humana, porque, sem amor para com os nossos inferiores, não podemos aguardar a proteção dos superiores; sem respeito para com os outros, não devemos esperar o respeito alheio. Se temos sido vampiros insaciáveis dos seres frágeis que nos cercam, entre as formas terrenas, abusando de nosso poder racional ante a fraqueza da inteligência deles, não é demais que, por força da animalidade que conserva desveladamente, venha a cair a maioria das criaturas em situações enfermiças pelo vampirismo das entidades que lhes são afins, na esfera invisível".
Os Recursos do Estábulo
E se optarmos por buscar os recursos proteicos de nossa alimentação, poupando a vida dos animais, é o próprio Alexandre quem aconselha: " ... 0 aumento dos laticínios, para enriquecimento da alimentação, constitui elevada tarefa ... "E completa com uma assertiva sobre a qual venho pensando muito e cujo real significado, de tão grande, sinto talvez não tenha ainda condições de aprender: " ... porque tempos virão, para a humanidade terrestre, em que o estábulo, como o lar, será também sagrado". (destaque meu). Não é fácil entender o que Alexandre está nos dizendo. Vejamos! Constitui elevada tarefa o aumento da produção de laticínios, para enriquecimento da alimentação humana, De fato, o leite, os queijos, o creme de leite, a nata etc., são fontes riquíssimas não apenas de proteína, mas de outros elementos importantes em nossa nutrição. Portanto, recorrer aos seus derivados, seria perfeitamente válido. Entretanto, vem a contraparte - "o estábulo, como o lar, será também, sagrado".
Certamente ainda teremos de evoluir muito, para conseguir esse nível de entendimento e de libertação de nosso egocentrismo e egolatria. Tomara chegue mesmo esse dia, porque hoje, como já disse alguém, muito sofrimento dos animais ainda acompanha o nosso copo de leite. Infelizmente, em nosso meio, para que as criações de gado leiteiro sejam economicamente viáveis, a maioria dos bezerros machos são descartados, sendo encaminhados para os matadouros; os que permanecem (a maioria fêmeas) são imediatamente, após o parto, separados de suas mães entre berros de ambas as partes; as vacas matrizes (vacas parideiras) são submetidas a intenso processo de seleção genética, para que se transformem em verdadeiras máquinas produtoras de leite, mal podendo movimentar-se com seus enormes úberes. Quem duvidar, é só dar um pulo nesses abomináveis concursos de produção leiteira e conferir o que andam fazendo com as pobres vacas!
Há pouco tempo, ao comentar esses fatos, tive a feliz notícia de que um veterinário de Minas Gerais está conseguindo viabilizar uma criação de gado leiteiro, de maneira humanitária, como se diz, com razoável obtenção de lucros. Seja benvindo!
Também quanto à obtenção de ovos das galinhas, já começam a existir meios alternativos de criação das aves, que não o de ficarem confinadas e apertadas em restritas gaiolas nas quais não conseguem dar sequer um passo! Além disso, sofrem a famosa "debicagem", isto é, corte de parte de seu bico por lâmina incandescente, do que resulta um processo inflamatório com edema inclusive da região dos olhos. E para que produzam tudo o que possam e mais um pouco, no final do período de postura são submetidas à chamada "muda forçada", ou seja, mediante restrição alimentar, provoca-se a queda de suas penas e severo emagrecimento. Em seguida a esse estresse, são submetidas novamente a alimentação normal, do que resulta uma postura de melhor índice.
Nessas criações alternativas a que me referi, as aves são criadas naturalmente, soltas, à vontade, ciscando, comendo e botando ovos ... Felizmente! Parte desses ovos é aproveitada para consumo na alimentação humana, e outra parte, de ovos galados (fecundados) é orientada para o setor de reprodução das aves.
Quem sabe, aos poucos, vamos aprendendo a respeitar aqueles que nos ajudam a nos mantermos vivos e saudáveis. Nesse sentido é que aceito a citação de Erasto, no LM 2ª - XXII. 236:
"Deus pôs os animais ao vosso lado como auxiliares para vos alimentarem, para vos vestirem e vos ajudarem ... "
Entendo que os animais podem nos auxiliar em nossa alimentação, não com o sacrifício de suas vidas ( aliás, isso não consta do texto de Erasto nem do LE 723) mas, com os produtos que possam nos ceder, como o leite e os ovos. Também podem nos auxiliar em nossas vestimentas, sem que lhe arranquemos a pele mas, por exemplo, valendo-nos de sua lã, mediante tosquia adequada. Em uma camiseta com a figura de um filhote de raposa li a sugestiva frase: "Su madre tien abrigo de piel? De la mia, lo arrancaron". De fato eles podem nos auxiliar de muitas maneiras. Que o digam muitos idosos e solitários cuja única companhia, sempre fiel e amiga, é a de seu cão ou gato. Que o diga a nossa querida Francisca que vive no Abrigo Padre Vitor, anexo ao Centro Espírita Luz e Caridade, em Itobi - SP, sempre rodeada de seus gatos, que tanto ama.
No livro "50 Anos Depois", de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier (FEB, 2lª ed.,1940), às pag. 318 e 319 lê-se interessante passagem que exemplifica o poder do amor para com toda a criação. O diálogo é entre Helvídio Lucius e o Irmão Martinho, figura masculina que na realidade oculta a identidade de sua filha Célia, a quem procura e ainda não reconhece. Helvídio admira-se que a terra lá se mostre tão dadivosa e exuberante, ao que Martinho retruca: - "Não sei, aqui tão somente amamos muito a terra! Nossas arvores frutíferas nunca são cortadas, para que recebamos as suas dadivas e as suas flores. Os cordeiros nos dão a lã preciosa, as cabras e as jumentas, o leite nutritivo, mas não os deixamos matar nunca. As laranjeiras e oliveiras são as nossas melhores amigas. Às vezes, é à sua sombra que fazemos nossas preces, nos dias de repouso. Somos, aqui, uma grande família. E os nossos laços de afeto são extensivos à Natureza"(destaques meus).
E o Irmão Martinho continua: "Um dia observamos que os cabritos mais idosos gostavam de perseguir os cordeirinhos mansos e pequeninos. Então, as crianças da escola, recordando que Jesus tudo obtinha pela brandura do ensinamento, resolveram auxiliar-me na criação das ovelhas e das cabras, construindo para isso um só redil ... Ainda pequenos, uns e outros, filhos de mães diferentes, eram reunidos em todos os lugares e, com o amparo dos meninos, levados às nossas preces e aulas ao ar livre. As crianças sempre acreditaram que as lições de Jesus deveriam sensibilizar os próprios animais e eu as tenho deixado alimentar essa convicção encantadora e suave. O resultado foi que os cabritos brigões desapareceram. Desde então, o redil foi um ninho de harmonia. Crescendo juntos, comendo a mesma relva e sentindo sempre a mesma companhia, uns e outros eliminaram as instintivas aversões!. .. Por mim, observando essas lições de cada instante, fico a pensar como será feliz a coletividade humana quando todos os homens compreenderem e praticarem o Evangelho! ... "
O ouvinte sensibiliza-se e comenta: - "Irmão Marinho, estou compreendendo, agora, a exuberância da terra e a maravilha da paisagem. Todos esses feitos são um milagre do devotamento com que vindes consagrando todas as energias à terra benfazeja! Tendes amado muito e isso é essencial. Por muitos anos, fui também homem do campo mas, até agora, venho explorando o solo apenas com o interesse comercial. Agora compreendo que, doravante, devo amar também a terra, se algum dia regressar à lavoura. Hoje entendo que tudo no mundo é amor e tudo exige amor".
Que belíssima lição de vida em harmonia com tudo e com todos!
A Questão Vibratória
Outra razão para não se comer carne, é a de, com isso, se acabar com os matadouros. Quanto aos bovinos, além do horror de serem abatidos a maneta ou a pistola, centenas deles por dia, imagine-se o ambiente espiritual desses locais de matança! André Luiz nos informa que, nesses lugares, amontoam-se espíritos de baixa condição vibratória que lá comparecem para vampirizar o fluido vital que se desprende dos animais sacrificados. Repetem-se as cenas relatadas no Velho Testamento (veja-se o terceiro livro de Moisés, chamado Levítico), em que os animais eram sacrificados, sendo seu sangue espargido pelos altares. Por aí percebemos que o "Senhor", que recomendava esses procedimentos, nada tinha de divino; pelo contrário, representava entidade bastante necessitada. Na moderna versão dos matadouros, o "Senhor" também somos nós, que ainda nos valemos dos animais sacrificados, alimentando-nos de suas carnes.
São palavras do Irmão X, em Treino para a Morte, F. C. Xavier:
"O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe de nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros ... comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição".
A Implicação Ecológica do Comer ou não Comer Carne
Para Jeremy Rifkin, autor do livro Beyond Beef The Rise and Fall Cattle Culture (Além do Bife: Ascensão e Queda da Cultura do Gado) a sempre crescente população bovina afeta diversos ecossistemas da Terra, destruindo seus hábitats em seis continentes, sendo fator primário da destruição de florestas tropicais e da desertificação do sub-Saara africano e do Oeste dos EUA e da Austrália. Em 1996 havia 1,3 bilhão de bois e vacas no mundo, ocupando 24% da área de terra útil do planeta. O peso coletivo desses bovinos é superior ao peso coletivo dos humanos. Esse gado consome um terço de toda a safra de grãos do planeta, enquanto um bilhão de pessoas sofre de fome crônica e desnutrição. Ainda para Rifkin, um acre de cereal produz cinco vezes mais proteínas do que um acre devotado à criação de gado; um acre de legumes (feijões ou lentilhas) dez vezes mais; um acre de outros legumes e verduras, até quinze vezes mais. Assim, se uma parte da terra ocupada por gado fosse destinada a culturas, a maior parte dos famintos poderia ser alimentada adequadamente.
Aliás, segundo dados bastante atuais, do setor agropecuário, um bovino ocupa área de 1,5 hectares (média brasileira), espaço adequado ao plantio de vegetais para cesta-básica, que alimentariam muitas famílias.
Em 1,5 hectares pode-se produzir, em média, 9 toneladas/ ano de arroz ou 12 toneladas/ano de milho.
A criação extensiva de gado só se faz com desmatamento. Estima-se que 40% da floresta amazônica foi devastada para a criação de gado. Tira-se a mata nativa, e com ela toda a fauna e a flora correspondentes, transformando a área em pasto para os bois. Desmatar, já desmatamos demais. O planeta precisa é ser reconstituído, em seus ecossistemas naturais. É uma questão de sobrevivência para o próprio homem.
Como podemos concluir, a opção de não comer carne pode ajudar individualmente a cada um de nós e, conjuntamente, ao nosso planeta como um todo.
Convido você a pensar nisso!
Irvênia Prada

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