O QUE DIZ: O LIVRO DOS ESPÍRITOS

>> sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

590. Não há nas plantas, como nos animais, um instinto de conservação que as leva a procurar aquilo que lhes pode ser útil e a fugir do que lhes pode prejudicar?— Há, se o quiserdes, uma espécie de instinto: isso depende da extensão que se atribua a essa palavra; mas é puramente mecânico. Quando, nas reações químicas, vedes dois corpos se unirem, é que eles se afinam, quer dizer que há afinidade entre eles; mas não chamais a isso de instinto.
591. Nos mundos superiores as plantas são, como os outros seres, de natureza mais perfeita?— Tudo é mais perfeito; mas as plantas são sempre plantas, como os animais são sempre animais e os homens sempre homens. Algumas pessoas fazem desta resposta uma negação da continuidade evolutiva das coisas e dos seres. O leitor deve considerar que a resposta se refere à condição dos mundos superiores, onde há plantas, animais e homens, como nos inferiores, mas em escala avançada. A palavra sempre não é empregada aí no sentido de eternidade, mas tão somente para mostrar que os três reinos existem sempre, em todos os mundos referidos. Aliás, uma frase não poderia contradizer todo o livro.
592. Se comparamos o homem e os animais, em relação à inteligência, parece difícil estabelecer a linha de demarcação, porque certos animais têm, nesse terreno, notória superioridade sobre certos homens. Essa linha de demarcação pode ser estabelecida de maneira precisa?— Sobre esse assunto os vossos filósofos não estão muito de acordo. Uns querem que o homem seja um animal, e outros que o animal seja um homem. Estão todos errados. O homem é um ser à parte, que desce às vezes muito abaixo, ou que pode elevar-se muito alto. No físico, o homem é como os animais e menos bem provido que muitos dentre eles; a Natureza lhes deu tudo aquilo que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência, para prover às suas necessidades e à sua conservação. Seu corpo se destrói como o dos animais, isto é certo, mas o seu Espírito tem um destino que só ele pode compreender, porque só ele é completamente livre. Pobres homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis distinguir-vos deles? Reconhecei o homem pelo pensamento de Deus.
593. Podemos dizer que os animais só agem por instinto?— Ainda nisso há um sistema. É bem verdade que o instinto domina na maioria dos animais; mas não vês que há os que agem por uma vontade determinada? E que têm inteligência, porém ela é limitada. Além do instinto, não se poderia negar a certos animais a prática de atos combinados, que denotam a vontade de agir num sentido determinado e de acordo com as circunstâncias. Há neles, portanto, uma espécie de inteligência, mas cujo exercício é mais precisamente concentrado sobre os meios de satisfazer às suas necessidades físicas e prover a conservação. Não há entre eles nenhuma criação, nenhum melhoramento; qualquer que seja a arte que admiremos em seus trabalhos, aquilo que faziam antigamente é o mesmo que fazem hoje, nem melhor nem pior, segundo formas e proporções constantes e invariáveis. Os filhotes separados de sua espécie não deixam de construir o seu ninho de acordo com o mesmo modelo, sem terem sido ensinados. Se alguns são suscetíveis de uma certa educação esse desenvolvimento intelectual, sempre fechado em estreitos limites, é devido à ação do homem sobre uma natureza flexível, pois não fazem nenhum progresso por si mesmos, e esse progresso é efêmero, puramente Individual, porque o animal, abandonado a si próprio, não tarda a voltar limites traçados pela Natureza.
594. Os animais têm linguagem?— Se pensais numa linguagem formada de palavras e de sílabas, não; mas num meio de se comunicarem entre si, então, sim. Eles se dizem muito mais coisas do que supondes, mas a sua linguagem é limitada, como as próprias idéias, às suas necessidades.
594-a, Há animais que não possuem voz; esses não parecem destituídos de linguagem?— Compreendem-se por outros meios. Vós, homens, não tendes mais do que a palavra para vos comunicardes? E dos mudos, que dizeis? Os animais, sendo dotados da vida de relação, têm meios de se prevenirem e de exprimirem as sensações que experimentam. Pensas que os peixes não se entendem? O homem não tem o privilégio da linguagem, mas a dos animais é instintiva e limitada pelo círculo exclusivo das suas necessidades e das suas idéias, enquanto a do homem é perfectível e se presta a todas as concepções da sua inteligência.Realmente, os peixes que emigram em massa, bem como as andorinhas, que obedecem ao guia, devem ter meios de se advertirem, de se entenderem e de se combinarem. Talvez disponham de uma vista mais penetrante que lhes permita perceber os sinais que façam entre si; ou talvez a água seja um veículo que lhes transmita certas vibrações. Seja o que for, é incontestável que eles dispõem de meios para se entenderem, da mesma maneira que todos os animais privados de voz, que realizam trabalhos em comum. Deve-se admirar, diante disso, que os Espíritos possam comunicar-se entre eles sem o recurso da palavra articulada?
595. Os animais têm livre-arbítrio?— Não são simples máquinas, como supondes, mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas necessidades e não pode ser comparada à do homem. Sendo muito inferiores a este, não têm os mesmos deveres. Sua liberdade é restrita aos atos da vida material. ( Descartes ensinava que os animais são máquinas, agindo segundo as leis naturais, por não terem espírito. Essa concepção, que no tempo de Kardec era ainda bastante difundida, prevalece até hoje entre a maioria dos homens. Os Espíritos a contestaram, como se vê, e a sua opinião é referendada pelas ciências).
596. De onde vem a aptidão de certos animais para imitar a linguagem do homem, e por que essa aptidão se encontra mais entre as aves do que entre os símios, por exemplo, cuja conformação tem mais analogia com a daquele?— Conformação particular dos órgãos vocais, secundada pelo instinto da imitação. O símio imita os gestos; certos pássaros imitam a voz.
597. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá uma certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?— Sim, e que sobrevive ao corpo.
597-a. Esse princípio é uma alma semelhante à do homem?— É também uma alma, se o quiserdes; isso depende do sentido em que se tome a palavra; mas é inferior à do homem. Há, entre a alma dos animais e a do homem, tanta distância quanto entre a alma do homem e Deus.
598. A alma dos animais conserva após a morte sua individualidade e a consciência de si mesma? — Sua individualidade, sim, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente.
599. A alma dos animais pode escolher a espécie em que prefira encarnar-se?— Não; ela não tem o livre-arbítrio.
600. A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante, do homem após a morte?— Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso, e utilizado quase imediatamente; não dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas.
601. Os animais seguem uma lei progressiva, como os homens ?-Sim, e é por isso que nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios de comunicação mais desenvolvidos. São, porém, sempre inferiores e submetidos aos homens, sendo para estes servidores inteligentes. Nada há nisso de extraordinário. Suponhamos os nossos animais de maior inteligência, como o cão, o elefante, o cavalo, dotados de uma conformação apropriada aos trabalhos manuais, o que não poderiam fazer sob a direção do homem?
602. Os animais progridem como o homem, por sua própria vontade, ou pela força das coisas?— Pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não existe expiação.
603. Nos mundos superiores, os animais conhecem Deus?— Não. O homem é um deus para eles, como antigamente os Espíritos foram deuses para os homens.
604. Os animais, mesmo aperfeiçoados nos mundos superiores, sendo sempre inferiores aos homens, disso resultaria que Deus tivesse criado seres intelectuais perpetuamente votados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e de progresso que se assinalam em todas as suas obras?— Tudo se encadeia na Natureza, por liames que não podeis ainda perceber, e as coisas aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais chegará a compreender, no seu estado atual. Pode entrevê-los, por um esforço de sua inteligência, mas somente quando essa inteligência tiver atingido todo o seu desenvolvimento e se libertado dos preconceitos, do orgulho e da ignorância poderá ver claramente na obra de Deus. Até lá, suas idéias limitadas lhe farão ver as coisas de um ponto de vista mesquinho e acanhado. Sabei que Deus nunca se contradiz e que tudo, na Natureza, se harmoniza por meio de leis gerais, que jamais se afastam da sublime sabedoria do Criador.
604-a. A inteligência é assim uma propriedade comum, um ponto de encontro entre a alma dos animais e a do homem?— Sim, mas os animais não têm senão a inteligência da vida material; nos homens, a inteligência produz a vida moral.
605. Se considerarmos todos os pontos de contato existentes entre o homem e os animais, não poderíamos pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e a alma espírita; e que, se ele não tivesse esta última, poderia viver, mas como os animais? Dizendo de outra maneira: o animal é um ser semelhante ao homem, menos a alma espírita? Disso resultaria que os bons e os maus instintos do homem seriam o efeito da predominância de uma ou de outra dessas duas almas? - Não, o homem não tem duas almas, mas o corpo tem os seus instintos, que resultam da sensação dos órgãos. Não há no homem senão uma dupla natureza: a natureza animal e a espiritual; pelo seu corpo, participa da natureza dos animais e dos seus instintos; pela sua alma, participa da natureza dos Espíritos.
605-a Assim, além das suas próprias imperfeições, de que o Espírito deve alojar-se, deve ele lutar contra a influência da matéria? — Sim, quanto mais inferior é ele, mais apertados são os laços entre o espírito e a matéria. Não o vedes? Não, o homem não tem duas almas; a alma é sempre única, um ser único. A alma do animal e a do homem são distintas entre si, de tal maneira que a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas se o homem não possui uma alma animal, que por suas paixões o coloque no nível dos animais, tem o seu corpo, que o rebaixa frequentemente a esse nível, porque o seu corpo é ser dotado de vitalidade, que tem instintos, mas ininteligentes e limitados ao interesse de sua conservação.O Espírito, encarnando-se no corpo do homem, transmite-lhe princípío intelectual e moral, que o torna superior aos animais. A duas naturezas existentes no homem oferecem às suas paixões duas fontes diversas: "umas provêm dos instintos da natureza animal, outras das impurezas do espírito encarnado, que simpatiza em maior ou menor proporção com a grosseria dos apetites animais. O Espírito, ao purificar-se, liberta-se pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência, ele se aproxima dos brutos; liberto dessa influência, eleva-se ao seu verdadeiro destino.
606. De onde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a espécie particular de alma de que são dotados?— Do elemento inteligente universal.
606-a. A inteligência do homem e a dos animais emanam, portanto, de um princípio único? - Sem nenhuma dúvida; mas no homem ela passou por uma elaboração que a eleva sobre a dos brutos.
607. Ficou dito que a alma do homem, em sua origem, assemelha-se ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta e que ela ensaia para a vida. Onde cumpre o Espírito essa primeira fase? — Numa série de existências que precedem o período que chamais de Humanidade.
607-a. Parece, assim, que a alma teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação?— Não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e tende à unidade? É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco, e ensaia para a vida, como dissemos. E, de certa maneira, um trabalho preparatório como o da germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. E então que começa para ele no período de humanidade e, com este, a consciência do seu futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade dos seus atos.Como depois período da infância vem o da adolescência, depois a juventude e por fim a idade madura. Nada há, de resto, nessa origem, que deva humilhar o homem. Os grandes gênios sentem-se humilhados por terem sido fetos informes no ventre materno? Se alguma coisa deve humilhá-los, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para sondar a profundeza de seus desígnios e a sabedoria das leis que regulam a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia que faz a solidariedade de todas as coisas na Natureza. Crer que Deus pudesse ter feito qualquer coisa sem objetivo e criar seres inteligentes sem futuro seria blasfemar contra a sua bondade, que se estende sobre todas as suas criaturas.
607-b. Esse período de humanidade começa na Terra?— A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa, em geral, nos mundos ainda mais inferiores. Essa, entretanto, não é uma regra absoluta e poderia acontecer que um Espírito, desde o seu início humano, estivesse apto a viver na Terra. Esse caso não é frequente, e seria antes uma exceção.
608. O Espírito do homem, após a morte, tem consciência das existência que precederam, para ele, o período de humanidade?— Não, porque não é senão desse período que começa para ele a vida de Espírito, e é mesmo difícil que se lembre de suas primeiras existências como homem, exatamente como o homem não se lembra mais dos primeiros tempos de sua infância, e ainda menos, do tempo que passou no ventre materno. Eis porque os Espíritos vos dizem que não sabem como começaram.
609. O Espírito, tendo entrado no período de humanidade, conserva os traços do que havia sido precedentemente, ou seja, do estado em que se encontrava no período que se poderia chamar anti-humano?— Isso depende da distância que separa os dois períodos e do progresso realizado. Durante algumas gerações ele pode conservar um reflexo mais ou menos pronunciado do estado primitivo, porque nada na Natureza se faz por transição brusca; há sempre anéis que ligam extremidades da cadeia dos seres e dos acontecimentos. Mas esses traços desaparecem com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos se realizam lentamente, porque não são ainda secundados pela vontade, mas seguem uma progressão mais rápida, à medida que o Espírito adquire consciência mais perfeita de si mesmo.
610. Os Espíritos que disseram que o homem é um ser à parte na ordem da Criação enganaram-se, então?— Não, mas a questão não havia sido desenvolvida, e há coisas que não podem vir senão a seu tempo. O homem é, de fato, um ser à parte, porque tem faculdades que o distinguem de todos os outros e tem outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dosseres que O podem conhecer.METEMPSICOSE
611. A comunhão de origem dos seres vivos no princípio inteligente não é a consagração da doutrina da metempsicose?— Duas coisas podem ter a mesma origem e não se assemelharem em nada mais tarde. Quem reconheceria a árvore, suas folhas, suas flores e seus frutos no germe informe que se contém na semente de onde saíram? No momento em que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entra no período de humanidade, não tem mais relação com o seu estado primitivo e não é mais a alma dos animais, como a árvore não é a semente. No homem, somente existem do animal o corpo, as paixões que nascem da influência do corpo e o instinto de conservação inerente à matéria. Não se pode dizer, portanto, que tal homem é a encarnação do Espírito de tal animal e, por conseguinte, a metempsicose, tal como a entendem, não é exata.
612. O Espírito que animou o corpo de um homem poderia encarnar-se num animal?— Isto seria retrogradar, e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à nascente.
613. Por mais errônea que seja a idéia ligada à metempsicose, não seria ela o resultado do sentimento intuitivo das diferentes existências do homem?— Encontramos esse sentimento intuitivo nessa crença como em muitas outras; mas, como a maior parte dessas idéias intuitivas, o homem a desnaturou.A metempsicose seria verdadeira se por ela se entendesse a progressão da alma de um estado inferior para um superior, realizando os desenvolvimentos que transformariam a sua natureza, mas é falsa no sentido de transmigração direta do animal para o homem e vice-versa, o que implicaria a idéia de uma retrogradação ou de fusão. Ora, não podendo realizar-se essa fusão entre seres corporais de duas espécies, temos nisso um indício de que se encontram em graus não assimiláveis e que o mesmo deve acontecer com os espíritos que os animam. Se o mesmo Espírito pudesse animá-los alternativamente, disso resultaria uma identidade de natureza que se traduziria na possibilidade de reprodução material. A reencarnação ensinada pelos Espíritos se funda, pelo contrário, sobre a marcha ascendente da Natureza e sobre a progressão do homem na sua própria espécie, o que não diminui em nada a sua dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que faz das faculdades que Deus lhe deu para o seu adiantamento. Como quer que seja, a antiguidade e a universalidade da doutrina da metempsicose, e o número de homens eminentes que a professaram, provam que o princípio da reencarnação tem suas raízes na própria Natureza; esses são, portanto, argumentos antes a seu favor do que contrários. O ponto de partida do Espírito é uma dessas questões que se ligam ao princípio das coisas e estão nos segredos de Deus. Não é dado ao homem conhecê-las de maneira absoluta, e ele só pode fazer, a seu respeito, meras suposições, construir sistemas mais ou menos prováveis. Os próprios Espíritos estão longe de tudo conhecer, e sobre o que não conhecem podem ter também opiniões pessoais mais ou menos sensatas.É assim que nem todos pensam da mesma maneira a respeito das relações existentes entre o homem e os animais. Segundo alguns, o espírito não chega ao período humano senão depois de ter sido elaborado e individualizado nos diferentes graus dos seres inferiores da Criação. Segundo outros, o Espírito do homem teria sempre pertencido à raça humana, sem passar pela fieira animal. O primeiro desses sistemas tem a vantagem de dar uma finalidade ao futuro dos animais, que constituiriam assim os primeiros anéis da cadeia dos seres pensantes; o segundo é mais conforme à dignidade do homem e pode resumir-se da maneira seguinte:As diferentes espécies de animais não procedem intelectualmente umas das outras, por via de progressão; assim, o Espírito da ostra não se torna sucessivamente do peixe, da ave, do quadrúpede e do quadrúmano; cada espécie é um tipo absoluto, física e moralmente, e cada um dos seus indivíduos tirados da fonte universal a quantidade de princípio inteligente que lhe é necessária, segundo a perfeição dos seus órgãos e a tarefa que deve desempenhar nos fenômenos da Natureza, devolvendo-a à massa após a morte. Aqueles dos mundos mais adiantados que o nosso são igualmente constituídos de raças distintas, apropriadas às necessidades desses mundos e ao grau de adiantamento dos homens de que são auxiliares, mas não procedem absolutamente dos terrenos, espiritualmente falando.
Com O homem, já não se dá o mesmo. Do ponto de vista físico, o homem constitui evidentemente um anel da cadeia dos seres vivos; mas, do ponto de vista moral, há solução de continuidade entre o homem e o animal. O homem possui, como sua particularidade, a alma ou Espírito, centelha divina que lhe dá o senso moral e um alcance intelectual que os animais não possuem; é o ser principal, preexistente e sobrevivente ao corpo, conservando a sua individualidade. Qual é a origem do Espírito? Onde está o seu ponto de partida? Forma-se ele do princípio inteligente individualizado? Isso é um mistério que seria inútil procurar penetrar e sobre o qual, como dissemos, só podemos construir sistemas.O que é constante e ressalta ao mesmo tempo do raciocínio e da experiência são a sobrevivência do Espírito, a conservação de sua individualidade após a morte, sua faculdade de progredir, seu estado feliz ou infeliz, proporcional ao seu adiantamento na senda do bem, e todas as verdades morais que são a consequência desse princípio. Quanto às relações misteriosas existentes entre o homem e os animais, isso, repetimos, está nos segredos de Deus, como muitas outras coisas cujo conhecimento atual nada importa para o nosso adiantamento, e sobre as quais seria inútil nos determos.
677 - Por que a Natureza provê, por si mesma, todas as necessidades dos animais? - Tudo trabalha na Natureza. Os animais trabalham, como tu, mas o seu trabalho, como a sua inteligência, é limitado aos cuidados da conservação. Eis porque, entre eles, o trabalho não conduz ao progresso, enquanto entre os homens tem um duplo objetivo: a conservação do corpo e o desenvolvimento do pensamento, que é também uma necessidade e o que o eleva acima de si mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais é limitado aos cuidados de sua conservação, refiro-me ao fim a que eles se propõem, trabalhando. Mas, enquanto, sem o saberem, eles se entregam inteiramente a prover as suas necessidades materiais, são os agentes que colaboram nos desígnios do Criador. Seu trabalho não concorre menos para o objetivo final da Natureza, embora muitas vezes não possais ver o seu trabalho imediato.
692 - O aperfeiçoamento das raças animais e vegetais pela Ciência é contrário à lei natural? Seria mais conforme a essa lei deixar as coisas seguirem o seu curso normal? - Tudo se deve fazer para chegar à perfeição. O próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir os seus fins. Sendo a perfeição o alvo para que tende a Natureza, favorecer a sua conquista é corresponder àqueles fins.
692a - Mas o homem é geralmente movido, nos seus esforços para o melhoramento das raças, apenas por um interesse pessoal, que não tem outro objetivo senão o aumento de seu bem-estar; isso diminui o seu mérito? - Que importa que o seu mérito seja nulo, contando que se faça o progresso? Compete a ele tornar meritório o seu trabalho, por meio da intenção. Demais, por intermédio desse trabalho ele exercita e desenvolve sua inteligência e é sob esse aspecto que tira mais proveito.
723 - A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural? - Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalhoo. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização.
724 - A abstenção de alimentos animais ou outros, como expiação, é meritória? - Sim, se o homem se priva em favor dos outros, pois Deus não pode ver mortificação quando não há privação séria e útil. Eis porque dizemos que os que só se privam em aparências são hipócritas.
725 - Que pensar das mutilações praticadas no corpo do homem ou dos animais? - A que vem semelhante pergunta? Perguntai sempre se uma coisa é útil. O que é inútil não pode ser agradável a Deus, e o que é prejudicial lhe é sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevam a alma para Ele, e é praticando leis, em vez de violá-las, que podereis sacudir o jugo de vossa matéria terrena.
736 - Os povos que levam ao excesso o escrúpulo no tocante à destruição dos animais têm mérito especial? - É um excesso num sentimento que em si mesmo é louvável, mas que se torna abusivo e cujo mérito acaba neutralizado por abusos de toda espécie. Eles têm mais temor supersticioso do que verdadeira bondade.
773 - Por que pais e filhos não se reconhecem, entre os animais, quando os últimos não precisam mais de cuidados? - Os animais vivem a vida material e não a moral. A ternura da mãe pelos filhos tem por princípio o instinto de conservação aplicado aos seres que deu à luz. Quando esses seres podem cuidar de si mesmos, sua tarefa está cumprida e a Natureza nada mais lhe exige. É por isso que ela os abandona, para se ocupar de outros que chegam.
774 - Há pessoas que deduzem, do abandono das crias pelos animais, que os laços de família entre os homens não são mais que o resultado de costumes sociais e não uma lei natural. Que devemos pensar disso? - O homem tem outro destino que não o dos animais; por que, pois, querer sempre identificá-los? Para ele, há outra coisa além das necessidades físicas: há a necessidade de progresso. Os liames sociais são necessários ao progresso e os laços de família resumem os liames sociais; eis porque eles constituem uma lei natural. Deus quis que os homens, assim, aprendessem a amar-se como irmãos.
778 - O homem pode retrogradar para o estado natural? - Não, o homem deve progredir sem cessar e não pode voltar ao estado de infância. Se ele progride, é que Deus assim o quer; pensar que ele pode retrogradar para a sua condição primitiva seria negar a LEI DO PROGRESSO.

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